Resumo
Este texto investiga o espaço, autoconstruído e autogerido sobre as águas, da comunidade do Lago Catalão (Iranduba AM), destacando sua resiliência e capacidade de adaptação ao longo do tempo aos regimes dos rios, que apresentam cheias e estiagens cada vez mais intensas no contexto de mudanças climáticas. A caracterização do sítio e modo de vida somada a análises morfológicas indicam que existe uma consciência espontânea na comunidade, por meio da qual são (re)produzidas tipologias flutuantes e arranjos espaciais sobre as águas, graças à possibilidade de apropriação coletiva da várzea. Há uma dinâmica espacial singular no assentamento flutuante, que se reestrutura sazonalmente sobre a água, respeitando a uma lógica de gradação da transição público-privado e de condições de acesso ao rio e à terra firme, e demanda a proposição de novas categorias de análise morfológica para a devida caracterização do processo de reconfiguração espacial dos flutuantes: aglutinação, expansão, permuta e transferência. Tais processos são respostas adaptativa aos ciclos hidrológicos, relações de vizinhança dentro do grupo familiar, e necessidade de rodízio dos flutuantes de uso comum. Todos esses movimentos são possíveis graças à fluidez da água, que diferentemente da terra não prende as edificações ao solo nem favorece a fixação de lotes.
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