Resumo
O projeto de lei complementar do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília encontra-se em tramitação no âmbito do Poder Legislativo, do Distrito Federal, Brasil. Infelizmente, o projeto não considera históricos problemas da cidade: rupturas do tecido urbano; vazios sem justificativa funcional, bioclimática ou expressiva; questões de acessibilidade universal; má definição de espaços para a vida pública; uma das mais perversas estratificações socioespaciais do mundo. Décadas de crítica a configurações modernas, que não consideram o espaço ‘entre edifícios’ como alvo da atenção projetual, são ignoradas. Mais que em projetos do período clássico do urbanismo moderno (anos 1960), projetos recentes fazem proliferar espaços definidos por paredes cegas, ou edifícios-ilhas em esquemas introvertidos: atividades abrem para o interior dos prédios e esvaziam o âmbito público de transições entre fechado e aberto. As iniciativas do ‘homem comum’ de Certeau, sempre a reinventar a cidade mediante fascinantes ‘fissuras urbanas’ na ordem hegemônica, são ignoradas. Em vez de atacar problemas estruturais da cidade, o Plano perde-se em pormenorizar atributos das parcelas urbanas, no furor legislativo de quase duzentos artigos e uma miríade de anexos. O mundo das miudezas.
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