Resumo
Cianorte e Angélica são cidades novas planejadas em frentes pioneiras de colonização agrícola no interior do Brasil. Ambas traçadas nos primeiros anos da década de 1950, cada uma delas se filia a uma tradição urbanística específica: Cianorte fez ressoar tardiamente a noção da cidade como obra de arte, conjugada com princípios formais do ideário cidade jardim; Angélica concretizou precocemente no país o urbanismo racionalista da cidade funcional. Contrastando as duas formas urbanas, este trabalho explora as estratégias adotadas por seus projetistas e trata de apontar potencialidades e fragilidades destes traçados. Como resultado, este estudo morfológico revela, por um lado, a conformação de uma cidade moldada por preceitos clássicos de composição e a criação de uma paisagem urbana única, e, por outro, de uma cidade radicalmente moderna, funcionalmente padronizada e uniforme. Nos dois casos, a estratégia projetual repercutiu no desenvolvimento da forma urbana: em Angélica o uso e a ocupação do tecido urbano não se sujeitaram à configuração modernista e revolucionária dos elementos morfológicos; em Cianorte, o crescimento urbano ignorou o projeto da cidade bela e deixou de materializar o urbanismo proposto.
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