Resumo
O presente artigo utiliza-se da leitura da morfogênese de duas grandes favelas de Belo Horizonte que surgiram entre 1967 e 1979 para desvelar indícios que possam permitir a compreensão das formas de organização constituídas para a concretização de novas ocupações durante o período da Ditadura Militar (1964-1985). Analisam-se dois casos distintos: a Vila Cemig, cuja ocupação inicial dá-se no final da década de 1960, em gleba de 18 hectares que pertencia à Fundação Tiradentes (Polícia Militar), e a Vila Cafezal, que surge após 1972 em terreno de 17 hectares remanescente da antiga Colônia Agrícola Bias Fortes. A abordagem do artigo considera a morfogênese tanto no concernente à constituição do tecido urbano – rotas matrizes, planejadas e de conexão – quanto no que se refere à sua relação com a estrutura fundiária e a estrutura urbana de modo geral. Conclui-se que ambas revelam indícios de diferentes formas de associativismo e de organizações populares que conseguiram transcender a repressão militar e as políticas de desfavelamento.
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