Resumo
O planeta está em uma emergência climática, e muito se fala sobre a prioridade de preservação de florestas, mas a conexão entre cidade e natureza ainda é pouco compreendida na floresta tropical brasileira. Na Amazônia, 80% da população vive em cidades, onde duas metrópoles – Belém e Manaus são referências para as cidades menores. Esta pesquisa identifica e espacializa as fases de formação de cinturas periférica para essas metrópoles, os processos socioeconômicos, usos e atores envolvidos na sua produção ou afetados por seu desaparecimento, sob a luz de uma socioecologia. As cinturas periféricas são marcadores de fases de expansão e estagnação nas duas cidades, onde as cinturas mais preservadas são aquelas destinadas a usos institucionais; porém, há rápido desaparecimento destes interstícios, seja por ocupação informal, seja por ação do setor imobiliário, face ao intenso fluxo migratório para as duas cidades. Conclui-se que a convergência entre aspectos ecológicos, de planejamento e morfologia urbanos é urgente porque tanto dentro quanto fora das cidades a floresta é meio de produção da população nativa e de prestação de serviços ecossistêmicos, e porque os circuitos curtos e fluxos de conexão entre cidade e floresta favorecem a vida tanto local quanto globalmente.
Referências
Alier, J. M. (1997) O ecologismo dos pobres. São Paulo, Editora Contexto.
Almeida, A. W. B. (2013) “Nova Cartografia Social: territorialidades específicas e politização da consciência das fronteiras” em Almeida, A. W. B.; Faria Júnior, E. de A. (Eds.) Povos e Comunidades Tradicionais – Nova cartografia social: Livros, mapas, catálogo, fascículos, simpósios e vídeos. Manaus, Brasil, EUA Edições, 2013. p. 156 – 173.
Amazonas (2023) Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus – Prosamim. Unidade Gestora de Projetos Especiais. Disponível em: http://www.ugpe.am.gov.br/programas/prosamim/. Acesso em: 18/02/2023.
Angelo, H. e Bastos, P. P. M. (2020) “O imaginário do esverdeamento urbano: a natureza urbanizada na região alemã do Vale do Ruhr” Revista Eletrônica de Estudos Urbanos e Regionais. nº 41, ano 11, junho, 2020 <https://www.observatoriodasmetropoles.net.br/revista-e-metropolis-n-41-o-imaginario-do-esverdeamento-urbano/>.
Barke, M. (2019) Fringe Belts. In: OLIVEIRA, V. (ed.). J.W.R. Whitehand and the Historico-geographical Approach to Urban Morphology. Cham, Switzerland, Springer, 2019. p. 47 – 66.
Becker, B. (2013) A urbe amazônida: a floresta e a cidade. Rio de Janeiro, Garamond.
Belém, Prefeitura Municipal. (2008) Lei n. 8.655, de 30 de julho de 2008. Dispõe sobre o Plano Diretor do Município de Belém e dá outras providências. Belém, Prefeitura Municipal de Belém.
Brenner, N. (2013) Implosions/Explosions: Towards a Study of Planetary Urbanization. Berlin, Jovis.
Capel, H. (2002) La morfología de las ciudades. Barcelona, Ed. Del Serbal.
Cardoso, A. C. D. (no prelo) “A Trama dos Povos da Floresta: Amazônia para além do verde” Revista da Universidade Federal de Minas Gerais. Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares.
Cardoso, A. (2021) “Que contribuições virão de Amazônia brasileira para o urbanismo do século XXI?” Thésis, v.6, n.11, 2021. DOI: https://doi.org/10.51924/revthesis.2021.v6.266.
Cardoso, A. C. D., Silva, H.; Melo, A.C. e Fernandes, D. (2018) “Urban Tropical Forest: Where Nature and Human Settlements Are Assets for Overcoming Dependency, but How Can Urbanisation Theories Identify These Potentials?” em HORN, P.; D’ALENCON, P. A.; CARDOSO, A. C. D. Emerging Urban Spaces. (Eds.). Cham, Switzerland, Springer, 2018. p. 177 – 199.
Cardoso, A. C. D. e Lima, J. J. F. (2016) Belém: Transformações na ordem urbana. Rio de Janeiro, Letra Capital.
Cardoso, A. C. D. Lima, J. J. F. Ponte, J. P. X. Ventura Neto e R. S. Rodrigues, R. M (2020) “Morfologia urbana das cidades amazônicas: a experiência do Grupo de Pesquisa Cidades na Amazônia da Universidade Federal do Pará” Revista Brasileira de Gestão Urbana (urbe), v. 12. DOI: https://doi.org/10.1590/2175-3369.012.e20190275
Cardoso, A. C. D. e Ventura Neto, R. S. (2020) “Desenvolvimentismo e mercantilização da terra: transição e resistência das várzeas paraenses” Novos Cadernos NAEA, 23(1), 219–242.
Cardoso, A. C. D.; Amoras, M. S.; Gayoso, S. e Silva, H. (2022) “Contra-Cartografias de Povos Tradicionais nas Metrópoles Paraenses: Repertórios para um Urbano Amazônico Plural” NAU - A REVISTA ELETRÔNICA DA RESIDÊNCIA SOCIAL, v. 13, p. 937-953, 2022.
Cardoso, A.C.; Melo, C. e Gomes, T. (2015) “O urbano contemporâneo na fronteira de expansão do capital: padrões de transformações espaciais em seis cidades do Pará, Brasil” Revista de Morfologia Urbana. 4 (1), 2015, p. 5-28.
Castriota, R. (2021) Urbanização Extensiva na Amazônia Oriental: escavando a Não-Cidade em Carajás. Tese (Doutorado em Economia) Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2021.
Castro, E.; Schoenberg, R.; Araújo, R. e Benatti, J (2022) A violência na Amazônia e suas raízes históricas. Mesa Redonda realizada no NAEA/UFPA, Belém, 6 de maio.
Castro, L.; Oliveira, K.; Cardoso, A. C. e Ventura Neto, R. (2022) “O elefante na loja de cristais: A ação dos governos militares na produção do espaço urbano e regional na Amazônia” Anais VII Enanparq. São Carlos, ANPARQ.
Cerdá, I. (1979) Théorie générale de l' urbanisation. Paris, Editions du Seuil.
CIEAM - Centro da Indústria do Estado do Amazonas (2022) Zona Franca de Manaus sob ameaças, por Márcia Guimarães. https://cieam.com.br/editorial-zona-franca-de-manaus-sob-ameacas-por-marcia-guimaraes. [Acesso em 18/02/2023].
Conzen, M. R. G. e Conzen, M. P. (2004) Thinking about urban form:papers on urban morphology, 1932-1998. Oxford, Peter Lang.
Conzen, M. P. (2009) “How cities internalize their former urban fringes: A cross-cultural comparison” Urban Morphology, v. 13, n. 1, p. 29–54, 2009.
Conzen, M. R. G. (2022 [1969]) Alnwick, Northumberland: Análise do Plano de Cidade. Trad. Vitor Oliveira e Cláudia Monteiro. Porto, Urban Forms.
Correa, R. (1987) “A periodização da Rede Urbana na Amazônia” Revista Brasileira de Geografia, 49(3), p. 39-68.
Costa, F. (2019) A brief economic history of Amazon (1720-1970). Cambridge, Cambridge Scholars Publishing, 2019.
Diegues, A. C. (1998) O mito moderno da natureza intocada. Editora Hucitec.
Duarte, D. (2009) Manaus, entre o passado e o presente. Manaus, Editora Midiacom, 2009.
Elmqvist, T; Bannet, G. & Wilkinson, C. (2014) “Exploring urban sustainability and resilience” em Pearson, L.; Newton, P.; Roberts, P. (orgs) Resilient Sustainable Cities, A Future. New York, EUA, Routledge, p. 19-25.
Fanon, F. (2008) Peles Negras Máscaras Brancas. Salvador, Editora da UFBA.
Ferreira, R. C. (2022) Usos do território e preservação das margens dos rios urbanos brasileiros: Desafios para o planejamento territorial. 2022. 260. Tese de doutorado. Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
Forman, R.T.T. e Godron, M. (1986) Landscape ecology. Wiley & Sons Ed., New York.
Gelicoe, G. e Gelicoe, S. (1995) El Paisaje del Hombre. Barcelona, GG.
Hall, P. (1995) Cidades do Amanhã: Uma História Intelectual do Planejamento e do Projeto Urbanos no Século XX. São Paulo, Editora Perspectiva.
Heimbecker, V. P. C. (2014) Habitar na cidade: Previsão estatal da moradia em Manaus, de 1943 a 1975. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Universidade Federal do Amazonas.
Heimbecker, V. P. C. (2015) “Construir, desmanchar: a implantação de conjuntos habitacionais em Manaus e a dissolução da cidade flutuante em 1967” Revista Libertas, v. 15, n. 2, p. 273–294.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010) Censo 2010. Rio de Janeiro, IBGE.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2020) Região de Influência de Cidades: 2018. Rio de Janeiro, IBGE.
INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2011) Topodata: banco de dados geomorfométricos do Brasil. Modelo Digital de Elevação. São José dos Campos, 2011. <http://www.dsr.inpe.br/topodata/>.
IPCC (2022) Working Group II Contribution to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Disponível em https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg2/ [Acesso 03/08/2022].
Klink, H.-J; Potschin, M.; Tress, B.; Tress, G.; Volk, M.& Steinhardt, U. (2010) em bastian, O. (org.) Development and Perspectives of Landscape Ecology. Cham: Springer Nature, p. 1-12.
LARC (2018) Mapa do Cinturão Institucional formado por áreas militares e protegidas de Belém/Pa. Laboratório de Análise Ambiental e Representação Cartográfica (LARC). Núcleo do Meio Ambiente - NUMA/UFPA.
Leão. M. (2015) Remoção e Reassentamento nas Baixadas de Belém: estudo de caso de planos de reassentamento 1980-2010. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Pará.
Lopes, J. R. (2017) 1499: O Brasil antes de Cabral. Rio de Janeiro, Harper Collins.
Lopes, R. S. N. (2015) Transformações recentes no uso e dominialidade das áreas das forças armadas no cinturão institucional de Belém. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Pará.
Louis, H. (1936) “Die geographische Gliederung von Gross-Berlin” (A divisão geográfica da Grande Belrim), em H. LOUIS and W. PANZER (Eds) Landerkundliche Forschung: Krebs-Festschrift (Investigação Fundiária: Krebs-Festschrift) Stuttgart: Englehorn, pp. 146–171.
Loureiro, V. (2022) Amazônia, colônia do Brasil. Editora Valer.
Luizão, F; Nobre, C.& Manzi, A. (2005) “Projeto LBA, estudando as complexas interações da biosfera com a atmosfera na Amazônia” Acta Amazônica, 35-2, 2005. https://acta.inpa.gov.br/fasciculos/35-2/PDF/v35n2a20.pdf, [Acesso em 01/08/2022].
Magalhães, M. P. (2016) Amazônia Antropogênica. Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi.
Manaus (2021) Plano Diretor Ambiental e Urbanístico da cidade de Manaus. Prefeitura de Manaus.
Marcus, L. e PONT, M. B. (2015) “Towards a social?ecological urban morphology: integrating urban form and landscape ecology” ISUF 2015 XXII international Conference: City as organism. New visions for urban life, Paper: 556613?7385.
Meneguetti, K. S. (2014) “The fringe-belt concept and planned new towns: a Brazilian case study” Urban Morphology, v. 19, n. 1, p. 25–33, 31 out.
Meneguetti, K. S. (2007) De cidade-jardim a cidade sustentável: potencialidade para uma estrutura ecológica urbana em Maringá - PR. Tese de doutorado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo.
Merlin, P. e Choay, F. (2015) Dictionnaire de l’Urbanisme et de l’aménagement. Paris, Quadrige.
Miranda, T. B. (2020) A Ilusão da Igualdade: Natureza, justiça ambiental e racismo em Belém. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Pará.
Monte-Mór, R. L. (2015) “Urbanização, sustentabildiade, desenvolvimento: complexidade e diversidades contemporâneas na produção do espaço urbano” em Costa, G. M.; Costa, H. S. M. e Monte-Mór, R. L. (2015) Teorias e Práticas Urbanas: condições para sociedade urbana. Belo Horizonte, Brasil, Editora C/Arte, p. 55–69.
Moore, J. W. (2017) “The Capitalocene, Part I: on the nature and origins of our ecological crisis” Journal of Peasant Studies, v. 44, n. 3, p. 594–630, 4 maio 2017.
Nascimento, C. C. (2017) Ex-Presidente da Companhia de Habitação do Pará, responsável pela contratação das Cidades Novas junto ao Banco Nacional de Habitação. Entrevista concedida a Ana Claudia Cardoso e Thales Miranda, em 17 de janeiro.
Neves, E. (2022) Sob os tempos do equinócio: Oito mil anos de história na Amazônia central. São Paulo, Editora UBU.
Oliveira, A. M.& Costa, H. S. de M. (2018) “A trama verde e azul no planejamento territorial: aproximações e distanciamentos” Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v.20, n.3, p.538-555.
Oliveira, V. (2018) Diferentes abordagens em morfologia urbana. Contributos luso-brasileiros. Porto, Urban Forms. https://vitoroliveira.fe.up.pt/pdf/diferentes-abordagens-em-morfologia-urbana.pdf.
Projeto MapBiomas (2022) Mapeamento Anual de Cobertura e Uso da Terra do Brasil - Coleção 7 (Áreas Urbanizadas), https://mapbiomas-br-site.s3.amazonaws.com/MapBiomas_Cole%C3%A7%C3%A3o7_2022_10.10.pdf [Acesso em 07/11/2022].
Saito, K. (2022) O Ecossocialismo de Karl Marx. São Paulo, Boitempo.
Santos, M. (1978) “A especificidade do Espaço nos Países Subdesenvolvidos” em santos, M. (Ed.). O trabalho do geógrafo no Terceiro Mundo. São Paulo, Editora EDUSP.
Santos, Y. L. F.; Yanai, A. M.; Ramos, C. J. P.; Graça, P. M. L. A.; Veiga, J. A. P.; Correia, F. W. S. e Fearnside, P. M. (2022) “Amazon deforestation and urban expansion: Simulating future growth in the Manaus Metropolitan Region, Brazil” Journal of Environmental Management, v. 304, n. December 2021, p. 114279. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jenvman.2021.114279.
Silva, V. S. (2021) “Reconstituição espaço-temporal do Alagado do Piry de Jussara, Belém-PA: evolução e impacto na urbanização” Revista Cerrados, v. 19, n. 01, p. 113-139, jan./jun.-2021.
Souza, L. B. (2016) “Cidade Flutuante: Uma Manaus sobre as águas” Urbana: Rev. Eletrônica Centro Interdisciplinar de Estudos, v. 8, n. 2, p. 116–146.
SUDAM (1973) Amazônia: Política e estratégia de ocupação e desenvolvimento. Belém: Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia.
SUDAM (1976) Plano de desenvolvimento urbano da Amazônia. Belém, Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia.
USGS (2022/2021) United States Geological Service Earth Explorer. LANDSAT. Washington/DC: USGS [Imagem digital de satélite].
Villaça, F. (1998) Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo, Studio Nobel/ FAPESP/Lincoln Institute.
Whitehand, J. W. R (1967) “Fringe belts: a neglected aspect of urban geography” Trans Inst Br Geogr 41:223–233.
Whitehand, J. W. R. e Morton, N. J. (2004) “Urban morphology and planning: the case of fringe belts” Cities, v. 21, no. 4, p. 275-289.
Whitehand, J. W. R. e Morton, N. J. (2006) “The Fringe-belt Phenomenon and Socioeconomic Change” Urban Studies, Vol. 43, No. 11, 2047–2066.
Wulf, A. (2016). A invenção da natureza. Editora Crítica.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2023 Ana Claúdia Cardoso, Luana Castro, Kamila Oliveira